quarta-feira, 15 de julho de 2009

Vir a ser, o caminho

A compreensão do presente e do outro, próximo, (às vezes nem tão próximo assim) passa pelas diferentes noções acerca da realidade, da percepção das situações cotidianas, normalmente geradoras de conflitos psicológicos e sociais, que temos. Creio que tudo que somos e temos como característico é decorrente das relações sociais e do uso que fazemos das experiências, como diz Michel Foucault.
A vida em grupos normatizada pelas convenções sociais acabou por complexificar instintos primitivos, já não mais possíveis de saciedade imediata, senão, a médios e longos prazos. O medo da frustração nos faz transmutar nossas vontades para desejos imediatos, listáveis, plenamente atingíveis. Fazemos isso, quem sabe, para não morrermos de depressão, para poupar o peito, para tentar fugir do finito, falível, terminal que na verdade, como diz Nietzsche... Pusemos então, nossos objetivos realizáveis em listas de compras mensais, fotografias de ritos e datas memoráveis de passagens, nossas e de nossos rebentos, fragmentamos a vida em períodos, reduzimos a fatias o tempo cronológico (até os 20 anos, depois dos 40, quando chegar à terceira idade etc.). Vamos fazendo, em ato-reflexo, o mea culpa, mesmo em situações de conflito do próprio ato de pensar, embora não tenhamos o controle, a governabilidade, a gerência sobre tudo.
Os cenários, delineamos a medida que nos movemos criando novas incertezas e, graças a Deus, a pluralidade sobre os diferentes reais (MORIN, 2003). Objetos novos se encontram com nossos olhos para deles se perderem continuamente ao sabor da mais pueril quiromancia ou, como queira, mais romântico jogo de perdas e encontros. Conflitamo-nos com os “próximos”, ora assim denominados, ora pra sempre esquecidos por que distantes. Somos por eles afetados e profundamente modificados e, ao nos afastarmos deles, delatamos novas possibilidades de “virmos a ser”. O que podemos fazer ou o que vai acontecer com nossa linguagem, comportamento e pensamento, cada situação dirá ou induzirá ao método.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A COMPLEXIDADE DO PENSAMENTO PÓS-MODERNO

Em meados do séc. XVII o paradigma cartesiano newtoniano predispunha cada especialista em sua área ou como no clichê, “cada macaco no seu galho”. No séc. XX surge o novo paradigma: “as pessoas não são substituíveis e o todo é mais do que apenas cada uma de suas partes”, numa clara alusão à necessidade de desenvolver a visão sistêmica ou holística. Afinal, a concepção passa a ser a de que “toda ciência será a ciência humana da natureza”. Esta proposta sugere a superação do paradigma mecanicista, reducionista, que trabalha com uma visão de conhecimento fragmentado e separado em partes, para um paradigma com ênfase no todo.
A análise, estabilidade e objetividade do método simplista da ciência tradicional para explicar os fenômenos do mundo dão lugar à complexidade da contextualização, a imprevisibilidade na instabilidade dos sistemas e a intersubjetividade das interpretações com foco nas relações e conexões eco-sistêmicas desse novo paradigma emergente. Com a Física do Devir e a incontrolabilidade do caos surgem múltiplas narrativas como interpretações possíveis nos espaços consensuais da co-construção da realidade. Os princípios da separação que divisava cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas fossem possíveis para melhor resolvê-las e da redução dos pensamentos por ordem, dos mais fáceis aos mais difíceis, para atingir, pouco a pouco, o conhecimento mais complexo no método cartesiano, desabaram. Deixaram de ser suficientes para explicar a problemática das relações, dos ecossistemas ou da educação, por exemplo.
Edgar Morin surge com a multi-pluralidade dos princípios ocultos que governam nossa visão de mundo, que controlam a lógica de nossos discursos, comandam nossa seleção de dados significativos e nossa recusa dos não significativos, sem que tenhamos consciência disso. Para Morin (1998), “é evidente que a reforma de pensamento não visa fazer com que anulemos nossas capacidades analíticas ou separatistas, mas a de nos associarmos a um pensamento que agrega”. Qualquer que seja a denominação desta proposta paradigmática apresenta-se com características de rede, de teia, de sistema integrado, de interconexão, de inter-relacionamento, de superação da visão fragmentada do universo e da busca da reaproximação das partes para reconstituir o todo nas mais variadas áreas do conhecimento. Duas ou mais áreas se integram para uma nova produção deste. Na educação, especificamente, as disciplinas são colocadas em diálogo entre si. É uma prática possível e um caminho metodológico de diálogo entre saberes que geram diversos efeitos sobre a aplicabilidade dos conhecimentos científicos e sobre uma possível integração de saberes não-científicos. Assim, de “relógios a nuvens” surge a mente policompetente: cientistas, estudiosos, professores... que romperam as barreiras da especialidade, uma vez que “nenhum problema é especial; é apenas complexo” (MORIN, 2005).