quinta-feira, 23 de julho de 2009

O paradigma do apreender

Nasci na década em que o homem pousava na Lua. Mal sabia eu que o “pequeno passo para a humanidade” representava rupturas gigantescas de verdades incontestáveis para o mundo e para a proximidade local, apesar de minha avó austríaca duvidar daqueles três homens em solo lunar. A Ciência descobria pluralidades. Vovó duvidava.
A matemática e a experimentação passaram a quantificar os fenômenos e não demorou a surgirem os relógios digitais, a calculadora portátil, o telefone sem fio, as roupas sintéticas, o forno de microondas... Quanta transformação para a cabeça da “Baptcha Mainka”, minha avó! Mesmo que a maior invenção do século, a televisão, insistisse em mostrar imagens da Apollo 11, Baptcha morreu incrédula. A idéia de mundo dela não comportava os novos paradigmas.
A filha dela, minha mãe, também tinha dificuldades em entender porque o homem precisava buscar no universo, soluções para problemas do dia-a-dia. Eu, cá pra nós, achava tudo muito distante. Não via necessidade em nada daquelas descobertas. O mundo podia ser explicado da perspectiva da minha “Bike Ceci” na companhia da boneca “Suzy” e do cachorro Duque num lindo dia de sol. Era só o que eu precisava para ter um dia cheio de aventura e risadas. Era o meu mundo. Qualquer coisa, além disso, passava sem importância.
Mas, a escola foi colocando necessidades naquele mundo fixo e tive sede de aprender muitas leituras. Não consegui parar de aprender. As respostas nunca calaram minhas perguntas e, quando chegou a Internet, vi que podia ir tão longe quanto a Lua.
É que, segundo Thomas Kuhn, em cada período, temos uma perspectiva científica própria e organizada de ver a realidade: um paradigma. Mas a maneira como nos relacionamos com a ciência ou a vontade de aprender por ela vão definindo quanto e como vivemos. Uma vez que “progredimos não porque acumulamos conhecimentos, mas porque passamos de um paradigma a outro”, (KUHN, 1922). Assim, os que partilham de um determinado paradigma aceitam a descrição de mundo que é oferecida sem criticar os fundamentos íntimos da descrição.
No entanto hoje, creio sim, que saber sobre os olhares paradigmáticos da ciência na pós-modernidade (BAUMANN, 2004), nos permite assumir uns, refutar outros, transitar por eles ou misturá-los quando necessário, para entender o sentido e a dinâmica da visão de mundo que nos é ofertada.
Eis o grande desafio da educação: construir conhecedores de diferentes paradigmas que tenham condições de oferecer múltiplas interpretações sobre qualquer campo do conhecimento. Penso que a interdisciplinaridade (MORIN, 2005) é o caminho para os construtores do novo paradigma do aprender a apreender.